A sociedade de controle
Para antropóloga Paula Sibila, professora do Departamento de Pós
Graduação e Comunicação e do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da
Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, as redes sociais têm servido
como mis uma forma de vigiar e punir. Mais ainda, uma nova forma de
controlar. É que aquela velha e boa privacidade, tão desejada nos tempos de
Ditadura Militar, hoje é quase que completamente banalizada. Não que as redes
sociais sejam a causa das mudanças na subjetividade das pessoas, mas elas evidenciam
escancaradamente esse fenômeno. Todos, ou quase todos, se expõem
indiscriminadamente. Como no fato social de Durkheim em que o indivíduo tenta a
qualquer custo sair de sua invisibilidade. É como se todos quisessem estar ao
mesmo tempo em um tipo de Big Brother semelhante ao da TV e as avessas do livro
de George Orwell, 1984, onde a vigilância e a presença do Grande Irmão é
desejada. E o Grande Irmão pode ser qualquer um, desde agentes do governo,
instituições de controle social, até o simples vizinho. Os blogs, por
exemplo, que foram criados para serem um tipo de diário de pessoas
anônimas, viraram ferramentas corporativas de grandes empresas, sites
noticiosos, instituições privadas e públicas e acabam servindo para que se
consigam levantar N informações a respeito de quaisquer pessoas com as
mais variadas finalidades. Todos nós somos ou seremos vasculhados em algum
momento, desde que disponibilizemos informações. Assim, vivemos uma mistura de
sociedade da vigilância (Michel Foucault) e sociedade de controle
(Gilles Deleuze) onde somos vigiados e controlados ao mesmo tempo.
Desejamos e permitimos isso. Corpos dóceis na medida em que usamos a
rede e assimilamos de forma passiva e a crítica.
Fonte: Vigiar e Punir (Michel Foucault)
Fonte: O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia. (Gilles Deleuze)
As redes sociais estão aí. E nelas as pessoas são. Ou
demonstram apenas um único lado daquilo que são? Reparou como nas redes
sociais todos, ou quase todos, são muito felizes? Parece que estamos em outro
país, o das maravilhas, quem sabe? Pessoas comuns, que ganham salário
mínimo e andam em trens lotados, postam fotos em praias
paradisíacas, ao lado de carrões, mansões, grandes festas,
clubes, muitos sorrisos, somos todos felizes e
completos. Tudo brilha. Tudo em que tocamos vira ouro, um
sucesso!!! Já viu-nos perfis das redes sociais alguém que tenha
postado uma foto do momento em que passou o cartão de crédito e a
operação não foi autorizada? Eu nunca vi. Nas redes sociais fazemos
tudo para impressionar a pessoas estranhas, gente que nunca vimos como se fosse
possível manter essa máscara de sucesso e plenitude por muito tempo. Chega a
ser estranha e ingênua essa nossa forma de socializar. Pode ser que demonstre
algumas distorções na formação de nossa essência, onde parecemos acreditar que
temos que ser perfeitos e bem sucedidos para que sejamos
aceitos socialmente. É "A Intimidade como
Espetáculo", espetáculo apenas daquilo que queremos exibir.
Como diz a Música de Renato Russo: "Se você quiser entrar na tribo, tem
que ter carro do ano, TV em cores, pagar imposto, ter
pistolão. Filhos na escola, férias na Europa, conta bancária,
comprar feijão. Ser responsável, cristão convicto, cidadão modelo, burguês
padrão". Viu como é preciso ser perfeito!? Os
perfis das redes sociais são tão restritos e artificiais. Não resistem
a uma semana de convivência física.
Fonte: O Show do Eu, a intimidade como espetáculo, de Paula Sibila.
Alguma interação horizontal e relevante socialmente
As redes, como ferramentas de comunicação, são
ótimas. O problema é que ainda estão predominantemente na mão de certos grupos
ou governos que detém o monopólio da comunicação. Como aconteceu na Líbia,
onde, após uma determinada mobilização políticosocial através da Internet, o
governo determinou que os provedores deveriam sair do ar. E saíram um
apagão, autoritário na "democrática" Internet. Mas
não sejamos niilistas ao ponto de culpar a janela pela paisagem. A rede
como um meio de comunicação é ótimo e o mais democrático que se tem notícia. E
que “nela, pessoas comuns,” PARA NOSSA ALEGRIA", para nossa alegria
realmente e para nosso esclarecimento também, podem
postar informações com relevância social, coisas realmente importantes e
não apenas bobagens instantâneas. Imagine cidadãos anônimos quaisquer, porém
informados, esclarecidos política e socialmente, passando e repassando
informações e conhecimentos. Pessoas se politizando e se mobilizando
socialmente. Seria muito mais difícil controlar e manipular. A rede está aí, um
canal aberto, depende do tipo de uso que decidimos fazer. A sociedade em rede é
uma sociedade articulada, e se bem informada, pode revolucionar e reescrever a
própria história.
Fonte: A sociedade em Rede, Manuel Castells
Por: José Ricardo Nazário de Oliveira